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Verba Volant

Sobre o poder de times pequeno na inovação ou o que são Skunk Works? – PARTE I

No auge da Segunda Guerra Mundial, para o exército americano uma urgência cortava os céus: era imprescindível desenvolver caças a jato para enfrentar a superioridade aérea alemã.

A Lockheed Aircraft aceitou o desafio e o engenheiro Kelly Johnson ficou responsável pelo projeto. A solução? Um pequeno grupo de engenheiros foi selecionado e sob a liderança de Kelly Johnson, tinham o estreito prazo de entregar o primeiro protótipo em 150 dias. Contudo, devido as demandas de produção da época, não havia espaço na Lockheed para a equipe, e assim tiveram que se instalar em um local provisório, que infelizmente era próximo a uma fábrica que exalava odores nauseantes.

Na época, a tira de quadrinhos cômicos Li’l Abner era bem famosa e publicada em muitos jornais americanos. A histórias do protagonista Li’l Abner se passavam na vila caipira de Dogpatch. Próximo a vila, havia uma empresa chamada Skonk Works, que produzia uma substância fedida chamada Skonk Oil. — Mais ou menos como a usina nuclear do senhor Burns, nas proximidades de Springfield, onde Homer Simpson trabalha.

O engenheiro Irv Culver, que fazia parte do pequeno grupo liderado por Kelly Johnson, de forma brincalhona, passou a chamar o local de trabalho de Skonk Works. O nome acabou pegando, e ficou tão famoso que a Lockheed resolveu registrá-lo, mas como Skunk Works — para evitar qualquer problema com direitos autorais.

Para além dessa curiosidade, o mais importante dessa história é que essa equipe enxuta não somente entregou o primeiro protótipo funcional, do primeiro caça a jato das Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos (USAAF), como executou este feito em apenas 143 dias — sete dias antes do prazo original.

Ali nasceu não somente o primeiro caça a jato chamado P-80 Shooting Star, também nasceu a Skunk Works e sua filosofia de trabalho.

A Skunk Works mostrou que times pequenos não apenas podem ser mais eficientes que grandes estruturas burocráticas — eles são fundamentalmente superiores quando se trata de inovação disruptiva, pois não se trata de economia de recursos, mas de uma compreensão profunda sobre como a criatividade floresce em ambientes íntimos e desburocratizados

Claro, seria ingênuo demonizar as grandes estruturas organizacionais. Elas têm seu papel fundamental: são motores de escala, garantem qualidade consistente, mantêm operações complexas funcionando. Quando se trata de produção em massa, padronização de processos ou gestão de vastas redes de distribuição, os grandes times e suas hierarquias bem azeitadas são insubstituíveis.

Contudo quando o desafio é disrupção, quando o objetivo é quebrar paradigmas e criar o que ainda não existe, a natureza do jogo muda completamente. É aqui que os pequenos times revelam sua superioridade, não como oposição, mas como complemento necessário. Eles são o ambiente onde o impossível é criado para então ser escalado.

Nos pequenos times, cada membro conhece intimamente o trabalho do outro, as decisões são tomadas em conversas rápidas. A comunicação flui como água e quanto menor o grupo, maior a responsabilidade individual; quanto maior a responsabilidade, mais profundo o engajamento.

Para projetos disruptivos, grandes corporações enfrentam um dilema estrutural: ideias inovadoras frequentemente esbarram em múltiplos filtros organizacionais. Cada camada hierárquica representa um ponto de validação adicional, cada comitê uma etapa extra de aprovação. Os skunkworks operam na contramão dessa lógica, criando santuários onde a experimentação radical pode florescer sem os constrangimentos dos processos tradicionais.

Imagem de um caça-bombardeiro furtivo F-117 Nighthawk, desenvolvido pela Lockheed Skunk Works
Caça-bombardeiro furtivo F-117 Nighthawk, desenvolvido pela Lockheed Skunk Works.

FIM ■